Somos 45%

Esse texto é da minha amiga Nath, que escreveu um pequeno desabafo de como ela se sentiu com o paredão, da última terça feira.

A opinião é dela. E é apenas uma opinião.

Ninguém precisa concordar, mas todos, TODOS precisam respeitar.

Somos 45%

Hoje um reality show me fez mostrar a pior forma de se decepcionar.

Não foi com o programa. Não foi com os participantes. Não foi comigo por acompanhar.

A decepção foi pura e simplesmente com nós seres humanos, com as pessoas que estão por aí, dividindo esse país comigo.

Talvez algum parente meu. Um vizinho, quem sabe. Aquele colega que não tenho intimidade. Talvez até mesmo um amigo do peito.

A decepção é com qualquer um que tenha feito parte dos 55% de uma votação popular.

Sabe quando você pensa “não tem como tal coisa acontecer”?

Pois é, foi o que eu pensei.

Não tem como apoiarem um cara desses depois de tamanha falta de caráter e, acima de tudo, falta de HUMANIDADE que o mesmo demonstrou ter em rede nacional.

Não tem como. Por que raios apoiariam?

Vai contra todos os valores que a gente aprende desde cedo. Só que, infelizmente, eu estava enganada.

Erroneamente enganada.

Chegamos ao ponto onde a maioria do povo brasileiro que acompanha tal reality se apoia em um fanatismo inexplicável e passa por cima de tudo acima citado.

Caráter. Humanidade. Compaixão. VALORES UNIVERSAIS. Tudo porque escolheram amar e idolatrar um até então desconhecido.

Amar e idolatrar alguém a quem não devem absolutamente nada. Amar, idolatrar e ignorar qualquer coisa que o mesmo fez, faça ou venha fazer.

É isso, nada importa.

A partir do momento que escolhem, poucos tem a dignidade de dizer, no decorrer do programa: “pera lá, não estou aprovando as atitudes dessa pessoa”

E menos ainda são os que abrem mão dela. Surreal, não?

Se obrigam a estar com um desconhecido independentemente do que ele fizer. E o que esse fez, em questão, foi algo que me fez sentir desgosto e tristeza.

E não só a mim. Eu vi multidões indignadas. Eu vi milhares em choque. E mesmo assim não adiantou.

O fanatismo falou mais alto do que todos nós e nos deu um xeque-mate.

Não adianta culpar o programa por todas as incontáveis vezes que fizeram edições tendenciosas. Não que não sejam culpados.

São.

Mas a culpa do que aconteceu terça é exclusivamente desses seres humanos que se cegam, que criam motivos absurdos pra apoiarem outros absurdos, que passam da linha tênue entre torcer e perder a razão fazendo isso.

Seres humanos que viram a cena que me horrorizou e ignoraram.

Ou pior: CONCORDARAM.

Concordaram com um homem expondo um assunto pessoal de um ex amigo que confiou nele, que se abriu e mostrou toda a sua preocupação e dor.

Concordaram com um homem falando ao vivo pra o Brasil inteiro que esse ex amigo não é um bom pai.

Sendo que esse homem sabia que nada importava mais ao ex amigo, do que seu filho.

Concordaram com um homem culpando seu ex amigo de se vitimizar depois de tal feito degradante.

E, para piorar, concordaram com atitudes absolutamente machistas, onde este mesmo homem agrediu moralmente até a própria namorada.

Sei que ninguém é perfeito e muitos ali já cometeram diversos erros, mas nada nunca foi tão triste de se assistir quanto o que aconteceu terça.

Vou te contar, naquela hora eu, conhecida por minha negatividade, juro que pensei:

“Esse homem será eliminado”. “Impossível acontecer o contrário depois disso”.

Mas como já disse: eu errei.

Tudo está perdido sim, e infelizmente um simples reality show conseguiu nos mostrar isso.

Se, em um programa que era pra ser apenas um entretenimento, 55% dos seres humanos conseguiram mostrar que apoiam atitudes tão podres como essas, imagina em algo de escala maior?

Se somos minoria até contra um absurdo claro como a luz do dia, quem dirá contra o negrume que o mundo tem sido?

Somos minoria a favor do respeito. Do bom senso. E da humanidade.

Somos, com orgulho, 45%.